segunda-feira, julho 10, 2006

O amor de Camille


Para muitos homens é difícil entender o quanto de amor cabia no coração da pequena Camille. Gênio desde a infância, quando brincava com os irmãos pelas ruas e terrenos do pequeno vilarejo de Aisne na região da Picardia, na França, moldando ossos e esqueletos perfeitos com os irmãos e amigos, entre eles a caçula Louise e Paul Claudel, quatro anos mais novo que ela, que se tornaria seu maior amigo, confidente, incentivador, apoiador e até promoter após a morte trágica e só.
Camille demonstrou muito cedo a sensibilidade e o talento para as verdadeiras amizades, tendências, artes de vanguarda efervescentes na França, centro e berço da cultura e ciência ocidental naqueles idos dos anos 1800. Logo que o pai percebeu seu talento, tratou de enviá-la a Paris para estudar escultura com o primeiro grande mestre Alfred Boucher na Academia Colarossi. Por motivos de viagem, mesmo fascinado com o trabalho da pequena Camille, Boucher a confiou a Auguste Rodin, grande gênio da escultura consagrado desde aquela época e cultuado até os dias de hoje.
Os ensinamentos renderam um romance férrido, tórrido, ardente, produtivo que, em dado momento de tamanha paixão entre os dois nos quinze anos em que ficaram juntos, as obras dos dois se confundem, se completam, se fundem e se amam, como dois amantes verdadeiros em carne, sangue, alma e talento.
Após o rompimento e o completo abandono de Rodin, que não conseguia deixar a mulher; da família católica apostólica romana, que não aceitava uma filha solteira e tão amada envolvida com um homem casado; dos colegas de profissão; ofuscados pelo talento de Camille; da sociedade parisiense do século XIX, envenenada pela sua própria soberba; do movimento feminista em Paris que, não perdoou o desprendimento e todo o amor que cabia no coração de Camille, ela morreu só.
Camille tinha um amor incompreendido. Amor por sua obra, por um homem vil, por suas convicções, por si mesma. Um dos poucos que não a abandonou, nem mesmo após sua morte, foi o irmão Paul, imortalizado por ela em várias obras, entre elas "Paul aos treze" e outras duas que podem ser conferidas na exposição em Belém.
Este final de semana é a última oportunidade para entender um pouco da vida, obra, talento, alma e coração desta mulher, que morreu aos 79 anos incompletos após 30 anos de internação manicomial, com a eclosão da Primeira Guerra Mundial, no manicômio de Villeneuve-lès-Avignon, em 19 de outubro de 1943. É ver para conferir quanto amor cabia no coração da doce e pequena Camille.