domingo, maio 14, 2006

De médico e louco...

...todos nós temos um pouco

O grande filósofo Michel Foucaut, em sua obra "A história da loucura", ou do francês original "Histoire de la Folie à L'âge classique", em publicação de 1972, explica que do século 13 ao século 17, quando surgiram as primeiras instituições que, desumanamente, tratavam dos ditos loucos, muita coisa mudou nas instituições psiquiátricas do mundo inteiro.
Curiosamente, em pleno século 21, algumas destas mesmas instituições permanecem com os mesmos métodos da Idade Média, onde os doentes mentais são completamente alijados do convívio social, familiar e de trabalho, coisa que o movimento antimanicomial do mundo inteiro repugna veementemente, mas que muitos profissionais ignoram.
Por mais que os métodos utilizados ainda remontem à Idade Média, em muitos lugares os deficientes mentais são tratados de forma desumana, com desrespeito e são submetidos a situações de desagravo que ser humano nenhum mereça. Ei, mas onde estão as entidades que lutam para garantir a defesa dos Direitos Humanos básicos e essenciais ao cidadão comum? Com certeza ficam do lado de lá do muro das insitituições psiquiátricas.
Retomando ao livro do Foucaut, que foi por onde começamos, lá é descrito que as instituições de internação, ou melhor, os manicômios, surgiram a princípio como um fator de exclusão social, inicialmente destinado aos leprosos e, aos poucos, trasferido a "depósito" dos loucos.
No trecho transcrito abaixo, o filósofo fala sobre a forma como os hansenianos foram substituídos nestas instituições pelos portadores de DSTs e, aos poucos, foram sendo inteiramente ocupados pelos doentes mentais nos manicômios. O processo representou, em relação aos dias de hoje, um avanço formidável.
A lepra foi substituída inicialmente pelas doenças venéreas. De repente, ao final do século XV, elas sucedem a lepra como por direito de herança. Esses doentes são recebidos em diversos hospitais de leprosos: sob Francisco I, tenta-se inicialmente colocá-los no hospital da paróquia de Saint-Eustache, depois no Saint-Nicolas, que outrora tinham servido de gafarias. Por duas vezes, sob Carlos VIII, depois sob crlos VIII, depois em 1559, a eles tinham sido destinadas, em Saint-Germain-des-Prés, diversas barracas e casebres antes utilizados pelos leprosos. Eles logo se tornaram tão numerosos que é necessário pensar na construção de outros edifícios "em certos lugares espaçosos, de nossa cidade e arredores, sem vizinhança". Nasceu uma nova lepra, que toma o lugar da primeira. Aliás não sem dificuldades, ou mesmo conflitos. Pois os próprios leprosos sentem medo.
(Foucault. A História da Loucura)

A cidade à qual o filósofo se refere, é a capital das luzes, Paris, capital da França, hoje uma das principais do velho mundo e o exemplo para muitas outras em termos de respeito à dignidade e aos Direitos Humanos.
Mas o ponto principal é que aqui, em Belém do Pará, a maior cidade da Amazônia, talvez estejamos engatinhando no trato e no respeito a nossos doentes mentais, que são pessoas como eu e você, são portadores de esquizofrenia, distúrbio bipolar e tantas outras mazelas que podem acometer qualquer um ser humano, independente de religião, credo, raça, poder aquisitivo e coisa que o valha.
Fica aqui a sugestão de reflexão para todos os profissionais que lidam com esses "doentes". Será que estamos mesmo no caminho certo?

Um comentário:

Eva Maués disse...

Daniel
C´est pour les amis comme ti que je sais que ma vie c´est trés belle!!!
A bien tôt!
Eva.