quarta-feira, agosto 19, 2009

Procura-se um amigo

Não precisa ser homem, basta ser humano
basta ter sentimentos, basta ter coração
Precisa saber falar e calar, sobretudo saber ouvir

Tem que gostar de poesia, de madrugada,
de pássaro, de sol, de lua,
do canto dos ventos e das canções da brisa

Deve ter amor, um grande amor por alguém
ou então sentir falta de não ter esse amor

Deve amar o próximo
e respeitar a dor que os passantes levam consigo
Deve guardar segredo sem se sacrificar

Não é preciso que seja de primeira mão,
nem é imprescindível que seja de segunda mão.
Já pode ter sido enganado,
pois todos os amigos são enganados.

Não é preciso que seja puro
nem que seja todo impuro
mas não deve ser vulgar

Deve ter um ideal
e medo de perdê-lo e,
no caso de assim não ser,
deve sentir o grande vácuo que isso deixa

Tem que ter ressonâncias humanas,
seu principal objetivo deve ser o de ser amigo
Deve sentir pena das pessoas tristes
e compreender o imenso vazio dos solitários

Deve gostar de crianças
e lastimar as que não puderam nascer

Procura-se um amigo
para gostar dos mesmos gostos
que se comova quando chamado de amigo
que saiba conversar de coisas simples,
de orvalhos,
de grandes chuvas e
de recordações da infância

Precisa-se de um amigo para não enlouquecer,
para contar o que se viu de belo e triste durante o dia
dos anseios e das realizações,
dos sonhos e da realidade

Deve gostar de ruas desertas
de poças d´água
e de caminhos molhados,
de baira de estrada,
de mato depois da chuva,
de se deitar no capim.

Precisa-se de um amigo
que diga que vale à pena viver,
não porque a vida é bela,
mas porque já se tem um amigo

Precisa-se de um amigo para se parar de chorar
Para não viver debruçado no passado
em busca de memórias perdidas

Que nos bata nos ombros
sorrindo ou chorando,
mas que nos chame de amigo,
para ter-se a consciência
de que ainda se vive.



Vinícius de Moraes

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